domingo, fevereiro 29, 2004
E DEPOIS DO... MARCELLO
Era o mote que tínhamos acordado, entre nós os sete, para darmos por findos os nossos blogues - … - e iniciarmos esta nova aventura chamada Blasfémia.
A ideia começou a germinar nas tertúlias das Antas, onde mensalmente nos vamos encontrando, e acabou por se confirmar na noite do lançamento do Pipi no Porto (afinal, a coisa sempre teve alguma utilidade). Falando por mim e não pelos defuntos Mata-Mouros e Cidadão Livre, a ideia, lançada pelos primeiros, veio ao encontro da necessidade que senti de ajudar a lançar um blogue colectivo (não colectivista), inequivocamente de matriz liberal, que permitisse relançar uma linha editorial, e mantê-la com uma assiduidade que sozinho não me era possível aguentar. Por outro lado, a variedade de temáticas e a partilha de um espaço serão, certamente, enriquecedores, para todos e, sobretudo para os leitores.
É, por conseguinte, com orgulho que me inicio a escrever, hoje no Blasfémia, nome que cai como uma luva a um espaço de cidadania e liberdade, politicamente inconformado, que quer afirmar-se como uma referência no liberalismo nacional. Ele será o resultado da fusão de três blogues com pergaminhos firmes e firmados na blogosfera nacional (Mata-Mouros, Cidadão Livre e Catalaxia), da responsabilidade de cinco bloguers experimentados, ao qual se associaram o nosso comum amigo PMF, anterior free lancer na blogosfera e, sobretudo (todos os outros que me perdoem) a nossa fantástica Sara Muller, nome próprio de baptismo e apelido de casamento (que já não é, graças a Deus…) e que se veio juntar ao nosso heterogéneo grupo masculino, a pedido insistente do CAA. Acho, francamente, que ela vai ser a melhor de nós todos, a mais lida, a mais sensata e comentada. A Sara M., conhecedora profunda do Porto, de Portugal e das suas gentes, regressada, ao fim de quase cinco anos, à cidade onde nasceu e (quase) sempre viveu, vai certamente surpreender muita gente e dar que falar…
Dado o mote – o 25 A. tinha o Paulo de Carvalho, nós, sinal do conservadorismo dos tempos, temos o Prof. Marcello – avancemos para o motim! Pelo que a mim me toca, que se iniciem as blasfémias. Rapidamente e em força!
Era o mote que tínhamos acordado, entre nós os sete, para darmos por findos os nossos blogues - … - e iniciarmos esta nova aventura chamada Blasfémia.
A ideia começou a germinar nas tertúlias das Antas, onde mensalmente nos vamos encontrando, e acabou por se confirmar na noite do lançamento do Pipi no Porto (afinal, a coisa sempre teve alguma utilidade). Falando por mim e não pelos defuntos Mata-Mouros e Cidadão Livre, a ideia, lançada pelos primeiros, veio ao encontro da necessidade que senti de ajudar a lançar um blogue colectivo (não colectivista), inequivocamente de matriz liberal, que permitisse relançar uma linha editorial, e mantê-la com uma assiduidade que sozinho não me era possível aguentar. Por outro lado, a variedade de temáticas e a partilha de um espaço serão, certamente, enriquecedores, para todos e, sobretudo para os leitores.
É, por conseguinte, com orgulho que me inicio a escrever, hoje no Blasfémia, nome que cai como uma luva a um espaço de cidadania e liberdade, politicamente inconformado, que quer afirmar-se como uma referência no liberalismo nacional. Ele será o resultado da fusão de três blogues com pergaminhos firmes e firmados na blogosfera nacional (Mata-Mouros, Cidadão Livre e Catalaxia), da responsabilidade de cinco bloguers experimentados, ao qual se associaram o nosso comum amigo PMF, anterior free lancer na blogosfera e, sobretudo (todos os outros que me perdoem) a nossa fantástica Sara Muller, nome próprio de baptismo e apelido de casamento (que já não é, graças a Deus…) e que se veio juntar ao nosso heterogéneo grupo masculino, a pedido insistente do CAA. Acho, francamente, que ela vai ser a melhor de nós todos, a mais lida, a mais sensata e comentada. A Sara M., conhecedora profunda do Porto, de Portugal e das suas gentes, regressada, ao fim de quase cinco anos, à cidade onde nasceu e (quase) sempre viveu, vai certamente surpreender muita gente e dar que falar…
Dado o mote – o 25 A. tinha o Paulo de Carvalho, nós, sinal do conservadorismo dos tempos, temos o Prof. Marcello – avancemos para o motim! Pelo que a mim me toca, que se iniciem as blasfémias. Rapidamente e em força!
sábado, fevereiro 28, 2004
PORTUGAL
Ontem, na RTP1, no novo concurso da hora de jantar, uma senhora na casa dos trinta e tal anos, economista, foi confrontada com um terrível pergunta, à qual lhe foram concedidas três possíveis respostas: o poder exercido pelos tribunais é o poder judicial, executivo ou legislativo? Ao fim de longos minutos em que um cínico apresentador a fez contorcer-se de dúvidas, a senhora resolveu gastar a sua última ajuda, oferecendo 75% do dinheiro que ganhara até ao momento, em troca da resposta certa. Por uma questão de princípio, o apresentador costuma pedir aos concorrentes que indiquem a resposta que escolheriam, ainda que a ajuda utilizada lhes forneça a verdadeira e, por conseguinte, a continuação no programa. Assim o fez com a nossa economista, que respondeu, então, o poder executivo.
Esta pequena história vale o que vale e, provalvelmente, não terá valor algum. A senhora, cuja formação académica há-de ser irrepreensível, estaria nervosa ou num dia mau, ou, então, como dizem os cábulas nas orais, ter-se-á "varrido tudo" no momento em que iniciou o jogo (o exame, no caso dos segundos). Por mim, demonstra que Portugal é um país de analfabetos diplomados, de gente que sabe pouco, muito pouco de coisa alguma e que, por isso, não pode concorrer com os seus parceiros espanhóis, franceses, italianos, já para não falar nos alemães. Portugal é um país atrasado, porque nele vive gente atrasada, que trata de o manter na respeitável posição da «cauda de Europa». E não se vê, por mais que se esforcem os nossos eminentes políticos e governantes, que a coisa possa vir a ser diferente.
Ontem, na RTP1, no novo concurso da hora de jantar, uma senhora na casa dos trinta e tal anos, economista, foi confrontada com um terrível pergunta, à qual lhe foram concedidas três possíveis respostas: o poder exercido pelos tribunais é o poder judicial, executivo ou legislativo? Ao fim de longos minutos em que um cínico apresentador a fez contorcer-se de dúvidas, a senhora resolveu gastar a sua última ajuda, oferecendo 75% do dinheiro que ganhara até ao momento, em troca da resposta certa. Por uma questão de princípio, o apresentador costuma pedir aos concorrentes que indiquem a resposta que escolheriam, ainda que a ajuda utilizada lhes forneça a verdadeira e, por conseguinte, a continuação no programa. Assim o fez com a nossa economista, que respondeu, então, o poder executivo.
Esta pequena história vale o que vale e, provalvelmente, não terá valor algum. A senhora, cuja formação académica há-de ser irrepreensível, estaria nervosa ou num dia mau, ou, então, como dizem os cábulas nas orais, ter-se-á "varrido tudo" no momento em que iniciou o jogo (o exame, no caso dos segundos). Por mim, demonstra que Portugal é um país de analfabetos diplomados, de gente que sabe pouco, muito pouco de coisa alguma e que, por isso, não pode concorrer com os seus parceiros espanhóis, franceses, italianos, já para não falar nos alemães. Portugal é um país atrasado, porque nele vive gente atrasada, que trata de o manter na respeitável posição da «cauda de Europa». E não se vê, por mais que se esforcem os nossos eminentes políticos e governantes, que a coisa possa vir a ser diferente.
domingo, fevereiro 22, 2004
TEMPO
O princípio da liberdade pressupõe uma correcta valoração do tempo.
Todas as ideologias assumem essa tarefa: Hitler queria um império para mil anos, os socialismos anunciam um novo tempo em que os homens serão iguais e o paraíso descerá à terra, Salazar queria Portugal fora do seu tempo, Mussolini pregou o homem novo dos tempos modernos. Em regra, as ideologias querem impor ao homem o seu modelo de tempo.
O liberalismo não. Para nós, o tempo é um factor que nos igualitariza, uns perante os outros e todos perante a lei, o domínio público, o Estado. Para além disso, a medida do tempo, do nosso tempo, há-de ser exclusivamente nossa, individual e privada. O que dele fizermos é connosco, da nossa inteira responsabilidade e disso resultará, em parte, a justa medida das nossas existências. O contrato social terá, assim, por finalidade primeira devolver a cada um dos homens o direito ao seu tempo, e com ele e por ele, o direito à propriedade, à felicidade ou a qualquer outro destino resultante do que dele tivermos feito, com os talentos que a natureza nos dotou.
Por isso é imoral que o Estado se aproprie daquele que é o bem mais escasso, o mais valioso, o que nunca sabemos quando terminará, e cujo valor aumenta na directa proporção da progressão das nossas vidas.
A questão da intervenção estadual, da cobrança coerciva do produto do nosso trabalho que nos impede de usufruir o nosso tempo é, por isto, uma questão moral e existencial: arrogar-se ao direito de dispor ilimitadamente do nosso tempo, fez do Estado moderno um Estado religioso, clerical e teológico, que usa o tempo dos homens como fosse a sua origem, princípio e fim.
O princípio da liberdade pressupõe uma correcta valoração do tempo.
Todas as ideologias assumem essa tarefa: Hitler queria um império para mil anos, os socialismos anunciam um novo tempo em que os homens serão iguais e o paraíso descerá à terra, Salazar queria Portugal fora do seu tempo, Mussolini pregou o homem novo dos tempos modernos. Em regra, as ideologias querem impor ao homem o seu modelo de tempo.
O liberalismo não. Para nós, o tempo é um factor que nos igualitariza, uns perante os outros e todos perante a lei, o domínio público, o Estado. Para além disso, a medida do tempo, do nosso tempo, há-de ser exclusivamente nossa, individual e privada. O que dele fizermos é connosco, da nossa inteira responsabilidade e disso resultará, em parte, a justa medida das nossas existências. O contrato social terá, assim, por finalidade primeira devolver a cada um dos homens o direito ao seu tempo, e com ele e por ele, o direito à propriedade, à felicidade ou a qualquer outro destino resultante do que dele tivermos feito, com os talentos que a natureza nos dotou.
Por isso é imoral que o Estado se aproprie daquele que é o bem mais escasso, o mais valioso, o que nunca sabemos quando terminará, e cujo valor aumenta na directa proporção da progressão das nossas vidas.
A questão da intervenção estadual, da cobrança coerciva do produto do nosso trabalho que nos impede de usufruir o nosso tempo é, por isto, uma questão moral e existencial: arrogar-se ao direito de dispor ilimitadamente do nosso tempo, fez do Estado moderno um Estado religioso, clerical e teológico, que usa o tempo dos homens como fosse a sua origem, princípio e fim.
ASSIM VAI A CORTE NO PSD
Marcello Rebelo de Sousa - o leal conselheiro;
José Pacheco Pereira - o fiel amigo;
Pedro Santana Lopes - o aliado dos bons e maus momentos;
Aníbal Cavaco Silva - o patriarca desinteressado;
José Manuel Durão Barroso - o príncipe perfeito.
Marcello Rebelo de Sousa - o leal conselheiro;
José Pacheco Pereira - o fiel amigo;
Pedro Santana Lopes - o aliado dos bons e maus momentos;
Aníbal Cavaco Silva - o patriarca desinteressado;
José Manuel Durão Barroso - o príncipe perfeito.
sábado, fevereiro 21, 2004
«RAPIDAMENTE E EM FORÇA?»
O CAA escreveu que o Mata-Mouros ia agir «rapidamente e em força» ao estado de decrepitude em que se encontra a blogosfera. Será possível concretizar?
O CAA escreveu que o Mata-Mouros ia agir «rapidamente e em força» ao estado de decrepitude em que se encontra a blogosfera. Será possível concretizar?
sexta-feira, fevereiro 20, 2004
NOVIDADES?
Uma amiga minha, que não é propriamente uma «sopeira malcheirosa» (bem pelo contrário...), nem «partidária» (já foi há uns anos), disse-me, ontem, que se aproximam grandes novidades na blogosfera nacional e patriótica! Que raio estará a rapariga a querer insinuar?
Uma amiga minha, que não é propriamente uma «sopeira malcheirosa» (bem pelo contrário...), nem «partidária» (já foi há uns anos), disse-me, ontem, que se aproximam grandes novidades na blogosfera nacional e patriótica! Que raio estará a rapariga a querer insinuar?
quinta-feira, fevereiro 19, 2004
quarta-feira, fevereiro 18, 2004
DELIRANTE
O LR escreveu ontem, no Mata-Mouros a posta (Pipizadas) mais delirante e engraçada que li na blogosfera. Já não me ria como me ri, há algum tempo. Quem me dera ter sido eu a escrever aquilo.
Só mais uma nota para dizer que o que o Luís escreveu a meu respeito é, obviamente, resultado de uma mente perversa e maldosa, que não merece confiança. O que te vale é seres uma «sopeira malcheirosa e partidária», que não toma banho. Por isso, não te ligo nenhuma. Fica sossegado.
O LR escreveu ontem, no Mata-Mouros a posta (Pipizadas) mais delirante e engraçada que li na blogosfera. Já não me ria como me ri, há algum tempo. Quem me dera ter sido eu a escrever aquilo.
Só mais uma nota para dizer que o que o Luís escreveu a meu respeito é, obviamente, resultado de uma mente perversa e maldosa, que não merece confiança. O que te vale é seres uma «sopeira malcheirosa e partidária», que não toma banho. Por isso, não te ligo nenhuma. Fica sossegado.
terça-feira, fevereiro 17, 2004
PREEMPÇÃO
Vale a pena ler um livro, já com alguns anos (1996), de António Goucha Soares intitulado «Repartição de Competências e Preempção no Direito Comunitário». Neste trabalho o autor demonstra que a categoria jurídica da preempção, própria do federalismo norte-americano, já há muito está em vigor na Europa comunitária.
Por preempção entende-se, de forma abreviada, a transferência ou apropriação, de competências concorrentes dos Estados federados e do Estado federal, para este último, em regime que passa a ser de exclusividade. O processo é feito, invariavelmente, por via jurisprudencial do Supreme Court, nos EUA, e do Tribunal de Justiça da União Europeia, nesta última entidade. Acresce que, neste último caso, os próprios Estados-membros promovem sistematicamente essa mesma preempção, quando entendem que se deve ir mais além nas finalidades do processo de integração.
Isto foi patente, ao longo dos anos, com a definição de princípios de índole federalista, como os do efeito directo, da aplicabilidade directa e do primado do direito comunitário sobre o direito nacional, por via jurisprudencial, ou pela introdução de novas finalidades, como o Mercado Único, anunciado no Acto Único Europeu de 1986, e a União Económica e Monetária, decidida no Tratado de Maastricht de 1992. As competências comunitárias que escapam à soberania dos Estados-membros são, por conseguinte, imensas. Eram-no já, desde 1951 e 1957, com a instituição das três Comunidades iniciais, e foram sendo ampliadas, sobretudo a partir da década de setenta.
Por isso, não devemos estranhar quando, por exemplo, vemos a Comissão Europeia a “decidir” se os barcos espanhóis podem ou não pescar em águas, até há bem pouco tempo, consideradas como parte da nossa zona económica exclusiva, isto é, da nossa soberania.
O que isto quer dizer é que Portugal já não é um Estado soberano, pelo menos, desde o momento em que ratificou o Tratado de Adesão às Comunidades, nos longínquos idos de 1986. A nossa vida, em muitos aspectos, melhorou francamente e, se em muitos outros não veio a suceder o mesmo, tal não se deveu a qualquer “invasão” estrangeira, mas apenas à nossa tradicional incapacidade para nos governarmos. Auxílios comunitários não faltaram. Mas, quanto dessas verbas terão servido, de facto, para o seu fim, isto é, para ajudarem a preparar o país para o Mercado Único e para a concorrência que daí decorreria. E o que fizemos nós – Estado, governos e sociedade civil –, efectivamente, para que esse fim fosse cumprido? A que reformas estruturais procedemos? Ou será que não continuamos com um tecido económico e empresarial digno dos primórdios da Revolução Industrial? Ou será que não mantemos legislações caducas no emprego, nas rendas, na segurança social, etc.? E uma administração pública desnecessariamente extensa, no seu número e na sua incompetência?
Para um liberal, não pode haver meias tintas: ou defendemos o mercado livre e aberto ou defendemos um país mercantilista, com fronteiras fechadas e um proteccionismo agressivo em relação às importações. Por mim, não tenho dúvidas nem reservas.
Neste contexto, em que estamos envolvidos num mercado gigantesco para o qual não nos soubemos preparar, nem, ao que parece o faremos tão cedo, a julgar pela prestação dos nossos empresários no «Compromisso Portugal» da passada semana, talvez fizesse algum sentido um entendimento estratégico e económico com a nossa vizinha Espanha, de forma a criarmos na Ibéria um pólo económico e empresarial com força suficiente para se impor na Europa comunitária. Há que tentar ganhar aí um espaço digno, porque a soberania, essa, já a perdemos vai para muito tempo.
Vale a pena ler um livro, já com alguns anos (1996), de António Goucha Soares intitulado «Repartição de Competências e Preempção no Direito Comunitário». Neste trabalho o autor demonstra que a categoria jurídica da preempção, própria do federalismo norte-americano, já há muito está em vigor na Europa comunitária.
Por preempção entende-se, de forma abreviada, a transferência ou apropriação, de competências concorrentes dos Estados federados e do Estado federal, para este último, em regime que passa a ser de exclusividade. O processo é feito, invariavelmente, por via jurisprudencial do Supreme Court, nos EUA, e do Tribunal de Justiça da União Europeia, nesta última entidade. Acresce que, neste último caso, os próprios Estados-membros promovem sistematicamente essa mesma preempção, quando entendem que se deve ir mais além nas finalidades do processo de integração.
Isto foi patente, ao longo dos anos, com a definição de princípios de índole federalista, como os do efeito directo, da aplicabilidade directa e do primado do direito comunitário sobre o direito nacional, por via jurisprudencial, ou pela introdução de novas finalidades, como o Mercado Único, anunciado no Acto Único Europeu de 1986, e a União Económica e Monetária, decidida no Tratado de Maastricht de 1992. As competências comunitárias que escapam à soberania dos Estados-membros são, por conseguinte, imensas. Eram-no já, desde 1951 e 1957, com a instituição das três Comunidades iniciais, e foram sendo ampliadas, sobretudo a partir da década de setenta.
Por isso, não devemos estranhar quando, por exemplo, vemos a Comissão Europeia a “decidir” se os barcos espanhóis podem ou não pescar em águas, até há bem pouco tempo, consideradas como parte da nossa zona económica exclusiva, isto é, da nossa soberania.
O que isto quer dizer é que Portugal já não é um Estado soberano, pelo menos, desde o momento em que ratificou o Tratado de Adesão às Comunidades, nos longínquos idos de 1986. A nossa vida, em muitos aspectos, melhorou francamente e, se em muitos outros não veio a suceder o mesmo, tal não se deveu a qualquer “invasão” estrangeira, mas apenas à nossa tradicional incapacidade para nos governarmos. Auxílios comunitários não faltaram. Mas, quanto dessas verbas terão servido, de facto, para o seu fim, isto é, para ajudarem a preparar o país para o Mercado Único e para a concorrência que daí decorreria. E o que fizemos nós – Estado, governos e sociedade civil –, efectivamente, para que esse fim fosse cumprido? A que reformas estruturais procedemos? Ou será que não continuamos com um tecido económico e empresarial digno dos primórdios da Revolução Industrial? Ou será que não mantemos legislações caducas no emprego, nas rendas, na segurança social, etc.? E uma administração pública desnecessariamente extensa, no seu número e na sua incompetência?
Para um liberal, não pode haver meias tintas: ou defendemos o mercado livre e aberto ou defendemos um país mercantilista, com fronteiras fechadas e um proteccionismo agressivo em relação às importações. Por mim, não tenho dúvidas nem reservas.
Neste contexto, em que estamos envolvidos num mercado gigantesco para o qual não nos soubemos preparar, nem, ao que parece o faremos tão cedo, a julgar pela prestação dos nossos empresários no «Compromisso Portugal» da passada semana, talvez fizesse algum sentido um entendimento estratégico e económico com a nossa vizinha Espanha, de forma a criarmos na Ibéria um pólo económico e empresarial com força suficiente para se impor na Europa comunitária. Há que tentar ganhar aí um espaço digno, porque a soberania, essa, já a perdemos vai para muito tempo.
domingo, fevereiro 15, 2004
Caríssimo VilaCondense,
Muito obrigado pelo epíteto, que vale muito por vir donde vem. Vamos ver o que diz amanhã o "nosso" Prof. Marcello sobre a proto-candidatura de Santana. Se quer que lhe diga, salvaguardando a seriedade da questão presidencial (que, diga-se, também não é muita), acho que ainda nos vamos todos rir um bom bocado com as rasteiras que os nossos candidatos vão passar uns aos outros. Só espero que tanta abundância de candidatos a candidatos à direita, o que sucede pela primeira vez desde o Almirante Américo Thomaz, não resulte na eleição do Engº Guterres.
A propósito de assuntos sérios e sobre quem manda neste país, quando voltamos à Ibéria?
Muito obrigado pelo epíteto, que vale muito por vir donde vem. Vamos ver o que diz amanhã o "nosso" Prof. Marcello sobre a proto-candidatura de Santana. Se quer que lhe diga, salvaguardando a seriedade da questão presidencial (que, diga-se, também não é muita), acho que ainda nos vamos todos rir um bom bocado com as rasteiras que os nossos candidatos vão passar uns aos outros. Só espero que tanta abundância de candidatos a candidatos à direita, o que sucede pela primeira vez desde o Almirante Américo Thomaz, não resulte na eleição do Engº Guterres.
A propósito de assuntos sérios e sobre quem manda neste país, quando voltamos à Ibéria?
Minha Cara Charlotte,
Do fundo do coração lhe asseguro que seria incapaz de a tratar fosse de que maneira fosse, dado não ter nunca tido o gosto de lhe ter sido apresentado. Mas, lá que estava curioso por conhecê-la, isso não sou capaz de desmentir. Daí, ter perguntado, assim que cheguei à festa, por si, com o nome pela qual toda a blogosfera a conhece. Nome notável de auto-baptismo, justíssimo, por sinal. Percebi tarde, tarde demais, que nos tinhamos cruzado, mas nesse momento já você se encontrava à conversa com um sem número de pessoas. Entretanto escapei com outros camaradas para "conspirações" blogosféricas. Lamento não a ter cumprimentado a si e ao seu marido, mas, se não for antes, ficará pela certa para o lançamento do Pipi II.
Do fundo do coração lhe asseguro que seria incapaz de a tratar fosse de que maneira fosse, dado não ter nunca tido o gosto de lhe ter sido apresentado. Mas, lá que estava curioso por conhecê-la, isso não sou capaz de desmentir. Daí, ter perguntado, assim que cheguei à festa, por si, com o nome pela qual toda a blogosfera a conhece. Nome notável de auto-baptismo, justíssimo, por sinal. Percebi tarde, tarde demais, que nos tinhamos cruzado, mas nesse momento já você se encontrava à conversa com um sem número de pessoas. Entretanto escapei com outros camaradas para "conspirações" blogosféricas. Lamento não a ter cumprimentado a si e ao seu marido, mas, se não for antes, ficará pela certa para o lançamento do Pipi II.
sábado, fevereiro 14, 2004
SEXO
Estive, há duas ou três noites atrás, no lançamento portuense do livro do Pipi, num simpático bar da cidade que, ainda há pouco tempo, era um péssimo restaurante de comida indiana.
A coisa configurou-se como uma dessas centenas de festas temáticas, que todos os fins-de-semana enchem bares com meninas de vestidos pretos e justos ao corpo, cavalheiros escanhoados a perscrutar o horizonte, a ver se lhes sai alguma coisa em sorte, e uma fauna indistinta e assexuada, de difícil qualificação.
Neste caso, o acontecimento revestiu-se de pretensões culturais, teve direito a mesa, a discurso e, até, a um filme promocional, no qual um indivíduo encapuzado, com voz aflautada e pronúncia alfacinha, fez as vezes identitárias do tão enigmático Pipi, proferindo um chorrilho de disparates e asneirolas, que levaram a plateia à euforia, sobretudo quando lhes deu a todos indistintamente uma roda de «rotos» e «paneleiros».
A sessão que decorreu em breves minutos, foi aberta com algumas palavras de cortesia da nossa colega Charlotte, ao que percebi responsável pela promoção comercial do acontecimento, seguindo-se uma intervenção do Dr. João Pereira Coutinho que, como sempre, fez questão de dizer coisas muito inteligentes, e terminou com a leitura de «Colhões», um texto retirado da obra apresentada, pelo também nosso colega Alberto Gonçalves.
É evidente que a maralha que ali se reuniu, quase sem excepção, o fez por razões bem menos prosaicas do que as alegadas pelo Sr. Pereira Coutinho: não foi lá apreciar o «português erudito» em que a obra supostamente está redigida, nem inspirar-se no pensamento «utópico» do enigmático autor, mas apenas e só, para falar e ouvir falar desalmadamente de sexo, numa festarola onde estão umas carantonhas conhecidas.
Discorresse o consagrado Pipi sobre o estado do tempo ou a Política Agrícola Comum e, ainda que o fizesse com o mesmo notável estilo literário, a casa estaria às moscas, e o Sr. Pereira Coutinho teria de ir apregoar o seu peixe para outras paragens.
Bem vistas as coisas, o assunto resume-se a uma inteligente e lucrativa (e legítima) estratégia comercial, em torno do tema do momento - o sexo, o que, aliás, o autor, seja lá ele quem for, nunca quis ultrapassar. O resto é conversa da treta, insuportável e pretensiosa.
Estive, há duas ou três noites atrás, no lançamento portuense do livro do Pipi, num simpático bar da cidade que, ainda há pouco tempo, era um péssimo restaurante de comida indiana.
A coisa configurou-se como uma dessas centenas de festas temáticas, que todos os fins-de-semana enchem bares com meninas de vestidos pretos e justos ao corpo, cavalheiros escanhoados a perscrutar o horizonte, a ver se lhes sai alguma coisa em sorte, e uma fauna indistinta e assexuada, de difícil qualificação.
Neste caso, o acontecimento revestiu-se de pretensões culturais, teve direito a mesa, a discurso e, até, a um filme promocional, no qual um indivíduo encapuzado, com voz aflautada e pronúncia alfacinha, fez as vezes identitárias do tão enigmático Pipi, proferindo um chorrilho de disparates e asneirolas, que levaram a plateia à euforia, sobretudo quando lhes deu a todos indistintamente uma roda de «rotos» e «paneleiros».
A sessão que decorreu em breves minutos, foi aberta com algumas palavras de cortesia da nossa colega Charlotte, ao que percebi responsável pela promoção comercial do acontecimento, seguindo-se uma intervenção do Dr. João Pereira Coutinho que, como sempre, fez questão de dizer coisas muito inteligentes, e terminou com a leitura de «Colhões», um texto retirado da obra apresentada, pelo também nosso colega Alberto Gonçalves.
É evidente que a maralha que ali se reuniu, quase sem excepção, o fez por razões bem menos prosaicas do que as alegadas pelo Sr. Pereira Coutinho: não foi lá apreciar o «português erudito» em que a obra supostamente está redigida, nem inspirar-se no pensamento «utópico» do enigmático autor, mas apenas e só, para falar e ouvir falar desalmadamente de sexo, numa festarola onde estão umas carantonhas conhecidas.
Discorresse o consagrado Pipi sobre o estado do tempo ou a Política Agrícola Comum e, ainda que o fizesse com o mesmo notável estilo literário, a casa estaria às moscas, e o Sr. Pereira Coutinho teria de ir apregoar o seu peixe para outras paragens.
Bem vistas as coisas, o assunto resume-se a uma inteligente e lucrativa (e legítima) estratégia comercial, em torno do tema do momento - o sexo, o que, aliás, o autor, seja lá ele quem for, nunca quis ultrapassar. O resto é conversa da treta, insuportável e pretensiosa.
O FIM DOS TABÚS
Pergunta o CAA, no seguimento da entrevista dada por Santana Lopes ao Expresso, se o Prof. Cavaco vai arrumar as botas na corrida presidencial ou se, pelo contrário, vai à luta «contra este sistema de intrigas e falsas promessas, com os poucos apoios desinteressados que conseguir obter e pede ao povo que decida nas urnas quem é que é digno de ser Presidente de Portugal».
Descontando o facto de que um dos «apoios desinteressados» a que faz referência será o do Dr. Monteiro, a questão é naturalmente retórica. CAA sabe bem que a atitude do Prof. Cavaco na política foi sempre messiânica e providencial, só aparecendo e dando a cara com o partido e de preferência o país, prostrado aos seus pés, implorando-lhe que verta a sua imensa sabedoria e o seu inigualável talento governativo, a bem do bom povo português. Ora, este tipo de gestão política funciona bem quando se tem o poder nas mãos, um poder imenso como foi o seu ao longo de mais de dez anos, mas fraqueja no momento imediatamente seguinte à perda desse poder. Cavaco sentiu-o, logo, na sua candidatura presidencial e, provavelmente, a não ser que o partido e o país lhe peçam muito, lhe implorem, ele não será candidato a coisa nenhuma, por falta de vocação, de rasgo, digamos, de coragem política.
Ao contrário, o Dr. Santana que sempre geriu a sua carreira política com base no risco pessoal, não perde uma oportunidade para dar um salto em frente e subir um bocadinho mais na hierarquia do Estado. Sabendo que «as estrelas» não lhe reservaram o lugar de primeiro-ministro de Portugal, acima da Câmara de Lisboa resta-lhe a Presidência da República. Estando a direita sem candidato certo, não deixará o lugar a outros, nomeadamente aos «gestores de tabús».
O que é cero é que o Dr. Santana gosta do risco, vive politicamente dele e para ele, e transmitiu ao PSD e ao país essa imagem, que se inspirou numa leitura pessoal que fez da vida de Sá Carneiro. Inegavelmente, este estilo agrada muito mais ao PSD profundo que, em coligação com o CDS de Portas, fará do Dr. Santana o próximo inquilino do Palácio de Belém, arrumando os dois partidos de uma só vez e definitivamente, com os fantasmas de Cavaco e de Freitas do Amaral.
Pergunta o CAA, no seguimento da entrevista dada por Santana Lopes ao Expresso, se o Prof. Cavaco vai arrumar as botas na corrida presidencial ou se, pelo contrário, vai à luta «contra este sistema de intrigas e falsas promessas, com os poucos apoios desinteressados que conseguir obter e pede ao povo que decida nas urnas quem é que é digno de ser Presidente de Portugal».
Descontando o facto de que um dos «apoios desinteressados» a que faz referência será o do Dr. Monteiro, a questão é naturalmente retórica. CAA sabe bem que a atitude do Prof. Cavaco na política foi sempre messiânica e providencial, só aparecendo e dando a cara com o partido e de preferência o país, prostrado aos seus pés, implorando-lhe que verta a sua imensa sabedoria e o seu inigualável talento governativo, a bem do bom povo português. Ora, este tipo de gestão política funciona bem quando se tem o poder nas mãos, um poder imenso como foi o seu ao longo de mais de dez anos, mas fraqueja no momento imediatamente seguinte à perda desse poder. Cavaco sentiu-o, logo, na sua candidatura presidencial e, provavelmente, a não ser que o partido e o país lhe peçam muito, lhe implorem, ele não será candidato a coisa nenhuma, por falta de vocação, de rasgo, digamos, de coragem política.
Ao contrário, o Dr. Santana que sempre geriu a sua carreira política com base no risco pessoal, não perde uma oportunidade para dar um salto em frente e subir um bocadinho mais na hierarquia do Estado. Sabendo que «as estrelas» não lhe reservaram o lugar de primeiro-ministro de Portugal, acima da Câmara de Lisboa resta-lhe a Presidência da República. Estando a direita sem candidato certo, não deixará o lugar a outros, nomeadamente aos «gestores de tabús».
O que é cero é que o Dr. Santana gosta do risco, vive politicamente dele e para ele, e transmitiu ao PSD e ao país essa imagem, que se inspirou numa leitura pessoal que fez da vida de Sá Carneiro. Inegavelmente, este estilo agrada muito mais ao PSD profundo que, em coligação com o CDS de Portas, fará do Dr. Santana o próximo inquilino do Palácio de Belém, arrumando os dois partidos de uma só vez e definitivamente, com os fantasmas de Cavaco e de Freitas do Amaral.
quarta-feira, fevereiro 11, 2004
LUÍS NOBRE GUEDES
Poucos terão contribuído tanto para a refundação da direita portuguesa, como o tem vindo a fazer, há pelo menos vinte anos, Luís Nobre Guedes.
Guedes iniciou a sua intervenção política em meados dos anos oitenta, quando lançou a ideia de um grande semanário de direita, simultaneamente conservador mas sustentado por uma nova geração, que fizesse oposição ao cavaquismo que mexicanizara a vida política de então. Recolhe os meios financeiros necessários e nasce o Independente. Na altura, foi voz corrente que terá sido ele quem aproximou Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas para a direcção editorial do projecto. No seguimento do sucesso do jornal, Nobre Guedes avança, com Miguel Paes do Amaral e outros, para a constituição de um grupo na comunicação social. É conhecida a história da Media Capital e o seu envolvimento bem sucedido na TVI.
Da oposição jornalística ao cavaquismo, surge a tentação da intervenção política partidária. Na altura, o CDS estava desfeito, e Guedes, com outros, percebeu que o partido estava em saldo e, por isso, vulnerável a ser tomado por um grupo de gente nova. Manuel Monteiro avançou e ninguém porá em dúvida a importância que o Independente então teve, não apenas na desconstrução do cavaquismo, mas sobretudo na promoção de nova gente na direita, como o próprio Monteiro, mas também Portas, Lobo Xavier e outros.
Perdido o projecto inicial do CDS que incluia, de facto dois grupos política e sociologicamente muito diferenciados, Guedes lança Portas à presidência do partido, fazendo a chalaça de que era ele o candidato ao cargo. Quando, em 1998, no Congresso de Braga, Guedes insiste na matriz democrata-cristã para o novo CDS, aquilo pareceu-me profundamente ultrapassado e bafiento. Guedes explicou, na altura, que outra posição seria um erro: a democracia-cristã tem um mercado eleitoral muito importante, que poderá chegar aos 12 a 15% do eleitorado, o suficiente para voltar a pôr o CDS no governo. Prescindir desta matriz, desse capital político, que estava, não por muito tempo livre (os homens de Freitas espreitavam), era um absurdo. Tinha razão, como se viu.
E foi Guedes quem lançou a ideia da nova AD. Primeiro com Marcello Rebelo de Sousa, que fez questão de desfazer na eclosão do caso Moderna, mais tarde com Durão, tendo cinicamente anunciado às televisões na noite eleitoral (quando alguns PSD's, que não percebiam o que se estava a passar, diziam que era uma assunto ainda a debater) que a coligação era um dado de facto. Sem mais.
Podendo ser Ministro da Justiça, declinou. Prefere ganhar dinheiro na advocacia de negócios que pratica eximiamente. Discreto, cauteloso, evitando ao máximo a exposição pública, só a usa em momentos que concidera cruciais, como o foi no caso Moderna, na despenalização do aborto e pouco mais. Quando o CDS sai fora daquilo que projectou, aparece para o repor no lugar devido. É, por tudo isto, temido e odiado pelos serventuários do partido, que censuram a sua "falta de empenho" e gostariam de o ver ainda mais distante.
Hoje, o Público noticia que Guedes anda descontente com o CDS: com a actuação da Ministra da Justiça, com a falta de estratégia no debate do aborto, com o desbocado Pires de Lima. Se Guedes se afastar definitivamente do CDS, o partido poderá dizer adeus ao poder muito em breve. Se quiser por lá continuar, é bom que o oiça e afaste parte importante do actual partido.
Poucos terão contribuído tanto para a refundação da direita portuguesa, como o tem vindo a fazer, há pelo menos vinte anos, Luís Nobre Guedes.
Guedes iniciou a sua intervenção política em meados dos anos oitenta, quando lançou a ideia de um grande semanário de direita, simultaneamente conservador mas sustentado por uma nova geração, que fizesse oposição ao cavaquismo que mexicanizara a vida política de então. Recolhe os meios financeiros necessários e nasce o Independente. Na altura, foi voz corrente que terá sido ele quem aproximou Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas para a direcção editorial do projecto. No seguimento do sucesso do jornal, Nobre Guedes avança, com Miguel Paes do Amaral e outros, para a constituição de um grupo na comunicação social. É conhecida a história da Media Capital e o seu envolvimento bem sucedido na TVI.
Da oposição jornalística ao cavaquismo, surge a tentação da intervenção política partidária. Na altura, o CDS estava desfeito, e Guedes, com outros, percebeu que o partido estava em saldo e, por isso, vulnerável a ser tomado por um grupo de gente nova. Manuel Monteiro avançou e ninguém porá em dúvida a importância que o Independente então teve, não apenas na desconstrução do cavaquismo, mas sobretudo na promoção de nova gente na direita, como o próprio Monteiro, mas também Portas, Lobo Xavier e outros.
Perdido o projecto inicial do CDS que incluia, de facto dois grupos política e sociologicamente muito diferenciados, Guedes lança Portas à presidência do partido, fazendo a chalaça de que era ele o candidato ao cargo. Quando, em 1998, no Congresso de Braga, Guedes insiste na matriz democrata-cristã para o novo CDS, aquilo pareceu-me profundamente ultrapassado e bafiento. Guedes explicou, na altura, que outra posição seria um erro: a democracia-cristã tem um mercado eleitoral muito importante, que poderá chegar aos 12 a 15% do eleitorado, o suficiente para voltar a pôr o CDS no governo. Prescindir desta matriz, desse capital político, que estava, não por muito tempo livre (os homens de Freitas espreitavam), era um absurdo. Tinha razão, como se viu.
E foi Guedes quem lançou a ideia da nova AD. Primeiro com Marcello Rebelo de Sousa, que fez questão de desfazer na eclosão do caso Moderna, mais tarde com Durão, tendo cinicamente anunciado às televisões na noite eleitoral (quando alguns PSD's, que não percebiam o que se estava a passar, diziam que era uma assunto ainda a debater) que a coligação era um dado de facto. Sem mais.
Podendo ser Ministro da Justiça, declinou. Prefere ganhar dinheiro na advocacia de negócios que pratica eximiamente. Discreto, cauteloso, evitando ao máximo a exposição pública, só a usa em momentos que concidera cruciais, como o foi no caso Moderna, na despenalização do aborto e pouco mais. Quando o CDS sai fora daquilo que projectou, aparece para o repor no lugar devido. É, por tudo isto, temido e odiado pelos serventuários do partido, que censuram a sua "falta de empenho" e gostariam de o ver ainda mais distante.
Hoje, o Público noticia que Guedes anda descontente com o CDS: com a actuação da Ministra da Justiça, com a falta de estratégia no debate do aborto, com o desbocado Pires de Lima. Se Guedes se afastar definitivamente do CDS, o partido poderá dizer adeus ao poder muito em breve. Se quiser por lá continuar, é bom que o oiça e afaste parte importante do actual partido.
terça-feira, fevereiro 10, 2004
REUMATISMO
Um grupo de ilustres cidadãos, entre os quais se destacam três políticos na reforma, a saber, Eurico de Figueiredo, Fernando Condesso e Paulo Mendo, surgiram hoje na comunicação social alarmados com o estado do país em geral, e da justiça em particular. Pediram a cabeça do Procurador-Geral, a quem imputam especiais responsabilidades na situação crítica da justiça, e já solicitaram uma audiência a S. Exª, o "Jorge", para lhe darem conta das suas preocupações e tentarem obter algum consolo democrático.
Hoje também, o presidente da VODAFONE, António Carrapatoso, num forum com o pomposo nome «Compromisso Portugal», propôs reformas profundas, e a criação de uma nova mentalidade nacional que passaria pelos valores de uma "cidadania qualificada, um Estado forte, um enquadramento político transparente e empresas competitivas".
Há poucos dias atrás, um outro grupo de cidadãos, entre eles o reformado político Correia de Campos, subscreveu um documento que levou a Mota Amaral, onde propunha medidas concretas para o equilíbrio das finanças públicas portuguesas.
Estas manifestações de reumatismo político, a fazerem lembrar a romagem dos generais do regime a Marcello Caetano pouco tempo antes do 25 de Abril, são indiciadoras do esvaziamento político a que se chegou. Sem instituições de governo credíveis que contribuam, de facto, para a resolução dos problemas dos contribuintes, logo surgem hordas de empenhados cidadãos disponíveis para darem as suas ilustres contribuições.
Quando as forças políticas de um regime, fracas e descredibilizadas, não se bastam a si mesmas, os actores da marginalidade política prontificam-se para assumirem papeis centrais. Em regra, nem uns nem outros duram muito tempo. Costumam ser arrastados pela queda dos regimes que pretendem salvar.
Um grupo de ilustres cidadãos, entre os quais se destacam três políticos na reforma, a saber, Eurico de Figueiredo, Fernando Condesso e Paulo Mendo, surgiram hoje na comunicação social alarmados com o estado do país em geral, e da justiça em particular. Pediram a cabeça do Procurador-Geral, a quem imputam especiais responsabilidades na situação crítica da justiça, e já solicitaram uma audiência a S. Exª, o "Jorge", para lhe darem conta das suas preocupações e tentarem obter algum consolo democrático.
Hoje também, o presidente da VODAFONE, António Carrapatoso, num forum com o pomposo nome «Compromisso Portugal», propôs reformas profundas, e a criação de uma nova mentalidade nacional que passaria pelos valores de uma "cidadania qualificada, um Estado forte, um enquadramento político transparente e empresas competitivas".
Há poucos dias atrás, um outro grupo de cidadãos, entre eles o reformado político Correia de Campos, subscreveu um documento que levou a Mota Amaral, onde propunha medidas concretas para o equilíbrio das finanças públicas portuguesas.
Estas manifestações de reumatismo político, a fazerem lembrar a romagem dos generais do regime a Marcello Caetano pouco tempo antes do 25 de Abril, são indiciadoras do esvaziamento político a que se chegou. Sem instituições de governo credíveis que contribuam, de facto, para a resolução dos problemas dos contribuintes, logo surgem hordas de empenhados cidadãos disponíveis para darem as suas ilustres contribuições.
Quando as forças políticas de um regime, fracas e descredibilizadas, não se bastam a si mesmas, os actores da marginalidade política prontificam-se para assumirem papeis centrais. Em regra, nem uns nem outros duram muito tempo. Costumam ser arrastados pela queda dos regimes que pretendem salvar.
segunda-feira, fevereiro 09, 2004
A NOBRE ARTE DE «CACICAR»
Talvez sem se aperceber, Jorge Coelho deu hoje, no Público, a mais perfeita definição do estado actual do nosso sistema político. Ao ser questionado por um jornalista que o entrevistou se não considerava desprestigiante o epíteto de “homem do aparelho”, respondeu assim:
«É. Mas, curiosamente, o engenheiro António Guterres antes de ser líder do PS e de ser primeiro-ministro teve as funções que eu tive depois, quando ele chegou a líder do partido. E ele era chamado de homem do aparelho. Depois foi primeiro-ministro, foi um excelente primeiro-ministro. E o presidente actual do governo dos Açores, Carlos César, também foi atacado por ser o homem do aparelho. Pelo que estamos a ver...»
Deste modo, Coelho demonstra que, em Portugal, para se ter poder político e chegar à chefia do Governo, é necessário dominar uma estrutura partidária, os seus caciques locais, ganhar eleições domésticas onde, por vezes, para eleger uma comissão política de um distrito importante votam vinte ou trinta pessoas. Mais do que o mérito pessoal, o que é necessário é “cacicar” um aparelho partidário e tê-lo na palma da mão. Com isso, é possível chegar ao Governo. Sem isso, o melhor será esquecer o assunto.
Talvez sem se aperceber, Jorge Coelho deu hoje, no Público, a mais perfeita definição do estado actual do nosso sistema político. Ao ser questionado por um jornalista que o entrevistou se não considerava desprestigiante o epíteto de “homem do aparelho”, respondeu assim:
«É. Mas, curiosamente, o engenheiro António Guterres antes de ser líder do PS e de ser primeiro-ministro teve as funções que eu tive depois, quando ele chegou a líder do partido. E ele era chamado de homem do aparelho. Depois foi primeiro-ministro, foi um excelente primeiro-ministro. E o presidente actual do governo dos Açores, Carlos César, também foi atacado por ser o homem do aparelho. Pelo que estamos a ver...»
Deste modo, Coelho demonstra que, em Portugal, para se ter poder político e chegar à chefia do Governo, é necessário dominar uma estrutura partidária, os seus caciques locais, ganhar eleições domésticas onde, por vezes, para eleger uma comissão política de um distrito importante votam vinte ou trinta pessoas. Mais do que o mérito pessoal, o que é necessário é “cacicar” um aparelho partidário e tê-lo na palma da mão. Com isso, é possível chegar ao Governo. Sem isso, o melhor será esquecer o assunto.
VOCÊS HA-DEM VER!
Agora que a tempestade parecia estar a amainar sobre a cabeça de Ferro Rodrigues (o líder em que todos os socialistas, exceptuando os Drs. Lamego e Carrilho, confiam cegamente), o Dr. Jorge Coelho, verdadeiro D. Sebastião do aparelho (da plebe) socialista, anunciou a sua intenção de suceder ao líder, obviamente apenas quando ele deixar de o ser. Até lá, Coelho, que é um dos mais enfáticos apoiantes de Ferro, nada fará para precipitar esse fim de ciclo. Ele jura e nós acreditamos.
Como nada fará também o comissário Vitorino (o D. Sebastião da aristocracia socialista), cujo inevitável regresso à pátria, depois de uma bem sucedida candidatura a candidato a secretário-geral da Comissão Europeia, nada tem que ver com este extemporâneo anúncio de Coelho. São apenas coincidências. Vocês ha-dem ver!
Agora que a tempestade parecia estar a amainar sobre a cabeça de Ferro Rodrigues (o líder em que todos os socialistas, exceptuando os Drs. Lamego e Carrilho, confiam cegamente), o Dr. Jorge Coelho, verdadeiro D. Sebastião do aparelho (da plebe) socialista, anunciou a sua intenção de suceder ao líder, obviamente apenas quando ele deixar de o ser. Até lá, Coelho, que é um dos mais enfáticos apoiantes de Ferro, nada fará para precipitar esse fim de ciclo. Ele jura e nós acreditamos.
Como nada fará também o comissário Vitorino (o D. Sebastião da aristocracia socialista), cujo inevitável regresso à pátria, depois de uma bem sucedida candidatura a candidato a secretário-geral da Comissão Europeia, nada tem que ver com este extemporâneo anúncio de Coelho. São apenas coincidências. Vocês ha-dem ver!
domingo, fevereiro 08, 2004
O VERDADEIRO GÉNIO LUSITANO
Da TSF:
«Segundo o Instituto do Consumidor (IC) foi recebida uma queixa de um banco que pagou 9250 euros por uma série de bilhetes que não existe.
Esta é uma de 10 queixas que o IC já recebeu de empresas portuguesas que se sentiram burladas por sites que vendem bilhetes para o Euro, através da Internet.
Os falsos ingressos foram oferecidos através de emails enviados pelo site Sports Mondial PLC, sediado na Austrália, EUA e Reino Unido, a preços muito superiores ao seu valor real. (...)
De acordo com, Gonçalo Moita, «os adeptos que se apresentem com bilhetes falsos ou inválidos não poderão entrar no estádio, por motivos que incluem a segurança do próprio. O objectivo da Euro 2004 S.A é conhecer a identidade de todos os consumidores, para evitar que um adepto fique situado no meio de uma claque hostil».
Gilberto Madaíl rejeita responsabilidades
O presidente da Sociedade Euro 2004 e da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl, apela às pessoas que comprem bilhetes apenas no locais oficiais para evitar as burlas.
«Os bilhetes nem sequer estão feitos. Estão a ser preparados, dentro de um âmbito extremamente confidencial, em todas as suas vertentes, porque só chegarão às mãos das pessoas em Abril», explicou.
«Garanto que neste momento não há bilhetes falsos, o que pode haver é vendas falsas», frisou.»
Da TSF:
«Segundo o Instituto do Consumidor (IC) foi recebida uma queixa de um banco que pagou 9250 euros por uma série de bilhetes que não existe.
Esta é uma de 10 queixas que o IC já recebeu de empresas portuguesas que se sentiram burladas por sites que vendem bilhetes para o Euro, através da Internet.
Os falsos ingressos foram oferecidos através de emails enviados pelo site Sports Mondial PLC, sediado na Austrália, EUA e Reino Unido, a preços muito superiores ao seu valor real. (...)
De acordo com, Gonçalo Moita, «os adeptos que se apresentem com bilhetes falsos ou inválidos não poderão entrar no estádio, por motivos que incluem a segurança do próprio. O objectivo da Euro 2004 S.A é conhecer a identidade de todos os consumidores, para evitar que um adepto fique situado no meio de uma claque hostil».
Gilberto Madaíl rejeita responsabilidades
O presidente da Sociedade Euro 2004 e da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl, apela às pessoas que comprem bilhetes apenas no locais oficiais para evitar as burlas.
«Os bilhetes nem sequer estão feitos. Estão a ser preparados, dentro de um âmbito extremamente confidencial, em todas as suas vertentes, porque só chegarão às mãos das pessoas em Abril», explicou.
«Garanto que neste momento não há bilhetes falsos, o que pode haver é vendas falsas», frisou.»
sábado, fevereiro 07, 2004
UM "GRANDE" EXEMPLO
O Público de hoje, relata uma história espantosa, ocorrida na denominada Grande Loja Nacional Portuguesa, obediência maçónica de recente criação.
O título do artigo - «Iniciação pela Internet gera desentendimento na Maçonaria» é, por si só, um tratado. Mas a coisa não se fica por aí. Desenvolve-se assim: um neófito de nome Paulo Novo, rapaz ainda jovem que ambicionava entrar na Maçonaria desde os 18 anos, quando rumou para a Alemanha, atrás de uma vida melhor, conseguiu ser admitido naquela Poderosa Obediência, graças aos bons ofícios de dois companheiros, o Armando (de Almada) e o Vicente (de Lisboa). Foi iniciado em Fevereiro de 2002, na distante e cabalística cidade de Tábua, na loja S. Jorge, cujo Venerável dava pelo nome de Sobral de Sousa. Daí em diante, foram só triunfos e glórias: em três meses apenas, fez o curso iniciático que o levou de aprendiz a mestre. Um mês após era secretário da loja, da qual, não fora um pequeno desaguisado fratricida, chegaria a Venerável antes do fim do ano. O que só não sucedeu porque o irmão Novo acusou o irmão Antunes de ter surripiado uns dinheiros da loja, o que lhe valeu um processo disciplinar que ele qualifica como "uma cabala". O processo disciplinar foi instruído pelo poderoso assistente do grão-mestre, o irmão Barata Pires.
Resta somente dizer, para encerrar o que de relevante tem este episódio, que o irmão Novo alcançou o hermético grau de Mestre via internet, através de um curso de preparação, realizando, por essa via, as provas rituais. Estas comodidades maçónicas da GLNP são generosamente facultadas aos irmãos, mediante o pagamento de algumas insignificantes centenas de euros. Por fim, ao ser confrontado pelo jornalista de serviço com a hipótese profana da sua Grande Loja ser uma «loja de 300», expressão sinónima de «aldrabice inqualificável», o poderoso Grão-Mestre Álvaro Carva negou-o energicamente.
Ora, esta historieta que envolve uma instituição que é, em qualquer parte do mundo, pelo menos, respeitada, em Portugal, como quase tudo, presta-se a tropelias cibernéticas, envolvendo uma galeria de inqualificáveis personagens, por ordem de importância decrescente, os irmãos Carva, Barata, Antunes, Armando, Vicente e Novo. Todos devidamente ornamentados com graus e honrarias maçónicas, na loja S. Jorge, a oriente de Tábua.
Não há dúvida que este «Grande» exemplo, é também mais um exemplo grande da enorme mentalidade portuguesa.
O Público de hoje, relata uma história espantosa, ocorrida na denominada Grande Loja Nacional Portuguesa, obediência maçónica de recente criação.
O título do artigo - «Iniciação pela Internet gera desentendimento na Maçonaria» é, por si só, um tratado. Mas a coisa não se fica por aí. Desenvolve-se assim: um neófito de nome Paulo Novo, rapaz ainda jovem que ambicionava entrar na Maçonaria desde os 18 anos, quando rumou para a Alemanha, atrás de uma vida melhor, conseguiu ser admitido naquela Poderosa Obediência, graças aos bons ofícios de dois companheiros, o Armando (de Almada) e o Vicente (de Lisboa). Foi iniciado em Fevereiro de 2002, na distante e cabalística cidade de Tábua, na loja S. Jorge, cujo Venerável dava pelo nome de Sobral de Sousa. Daí em diante, foram só triunfos e glórias: em três meses apenas, fez o curso iniciático que o levou de aprendiz a mestre. Um mês após era secretário da loja, da qual, não fora um pequeno desaguisado fratricida, chegaria a Venerável antes do fim do ano. O que só não sucedeu porque o irmão Novo acusou o irmão Antunes de ter surripiado uns dinheiros da loja, o que lhe valeu um processo disciplinar que ele qualifica como "uma cabala". O processo disciplinar foi instruído pelo poderoso assistente do grão-mestre, o irmão Barata Pires.
Resta somente dizer, para encerrar o que de relevante tem este episódio, que o irmão Novo alcançou o hermético grau de Mestre via internet, através de um curso de preparação, realizando, por essa via, as provas rituais. Estas comodidades maçónicas da GLNP são generosamente facultadas aos irmãos, mediante o pagamento de algumas insignificantes centenas de euros. Por fim, ao ser confrontado pelo jornalista de serviço com a hipótese profana da sua Grande Loja ser uma «loja de 300», expressão sinónima de «aldrabice inqualificável», o poderoso Grão-Mestre Álvaro Carva negou-o energicamente.
Ora, esta historieta que envolve uma instituição que é, em qualquer parte do mundo, pelo menos, respeitada, em Portugal, como quase tudo, presta-se a tropelias cibernéticas, envolvendo uma galeria de inqualificáveis personagens, por ordem de importância decrescente, os irmãos Carva, Barata, Antunes, Armando, Vicente e Novo. Todos devidamente ornamentados com graus e honrarias maçónicas, na loja S. Jorge, a oriente de Tábua.
Não há dúvida que este «Grande» exemplo, é também mais um exemplo grande da enorme mentalidade portuguesa.
IBÉRIA
Estive hoje um pouco à conversa com um velho amigo meu, director há muitos anos da melhor rede de health clubes do país. O homem estava amargurado: de há três anos a esta parte, a legislação e regulamentação municipal para o seu sector, aumentou exponencialmente, impondo exigências incompreensíveis e absurdas, e cobrando taxas brutais. «O pior de tudo», disse-me «ainda são os analfabetos que nos mandam fazer as inspecções para a concessão das autorizações de funcionamento. Não percebem nada do que vêm cá fazer, só levantam dificuldades e reprovam tudo». Neste momento, a empresa que o meu amigo dirige tem no continente quatro clubes acabados, prontos, aptos a receberem clientes, que aguardam, fechados há dois anos, as competentes licenças. E concluiu: «Só tenho pena de não ter aceite um convite que me fizeram para ir trabalhar para a América, quando era novo. Isto aqui não presta. Não se consegue trabalhar, nem fazer nada. Basta ir a Espanha para se sentir logo a diferença».
Este diálogo fez-me lembrar um episódio da minha vida recente. Há quatro anos tive de “arranjar” um empréstimo volumoso para uma certa empresa. Estavam em causa muitos postos de trabalho e a vida profissional de algumas centenas de pessoas. Bati à porta de todos os bancos portugueses. Fui recebido em todos com rara cortesia, por vezes excessiva e intimidatória. Todos me pediram sempre o mesmo: dossiers, plantas, projectos, contas, demonstrações e projecções, em suma, toneladas e toneladas de papel. O melhor que consegui, passadas semanas de espera exasperante, foram simpáticas negativas. A maior parte dos bancos não se deu sequer ao trabalho de responder. Até que, através de um amigo, fui a um banco catalão. Levei comigo, para poupar tempo, os dossiers tradicionais. Fui recebido pelo director, um homem sóbrio e atento, que me começou a ouvir e a ver a documentação que lhe ia expondo. Ao fim de cinco minutos, quando começava a abrir os volumosos rolos das plantas de um certo edifício, o homem transformou-se e, quase exaltado, disse-me: «Rui!, eu só quero uma folha A4 com a implantação do edifício e a memória descritiva, um mapa de tesouraria actual e mais nada! O resto podes levar». No fim da reunião, que pouco mais demorou, disse-me que teria a resposta em dez dias. No exacto fim desse prazo tinha a resposta e, dois dias após, o dinheiro (várias centenas de milhares de contos) no banco.
Não me parece oportuno acrescentar muito mais. Nem tão-pouco argumentar se estes dois casos são paradigmáticos ou se foram acidentais. A verdade das coisas, a verdade pura e dura, é que todos sabemos que Portugal funciona mal: os serviços, as empresas, o Estado, o poder local, tudo, mas mesmo quase tudo, funciona contra o cidadão. Fá-lo perder tempo e muito dinheiro. Empata, quando deveria estimular. Desincentiva.
Em Espanha, não é assim. Todos também o sabemos. A Espanha teve uma guerra civil devastadora, uma ditadura que a isolou do mundo, tem o terrorismo, os separatismos e, contudo, funciona incomparavelmente melhor do que Portugal. Que não tem terrorismo nem separatismos, não conheceu a guerra civil no século XX, e, quanto a ditaduras férreas, vou ali e já venho… Resta acrescentar que estamos na mesma península e não nos separa o deserto do Saara. Praticamente, em muitos pontos do território mal sabemos quando estamos cá ou lá.
O que se passa, então, com Portugal? Que estranho trauma teremos, que facto da História nos terá transformado neste povo abúlico, submisso, bajulador e rastejante para com os de cima e ofensivo para os de baixo, gente sem rasgo nem horizonte e invejosa, mil vezes invejosa do sucesso do vizinho, do carro da prima ou da amante do tio?
Responda quem souber! Agora, que nos faria muito bem um choque com o impacto de 1580, não duvidem por um segundo!
Estive hoje um pouco à conversa com um velho amigo meu, director há muitos anos da melhor rede de health clubes do país. O homem estava amargurado: de há três anos a esta parte, a legislação e regulamentação municipal para o seu sector, aumentou exponencialmente, impondo exigências incompreensíveis e absurdas, e cobrando taxas brutais. «O pior de tudo», disse-me «ainda são os analfabetos que nos mandam fazer as inspecções para a concessão das autorizações de funcionamento. Não percebem nada do que vêm cá fazer, só levantam dificuldades e reprovam tudo». Neste momento, a empresa que o meu amigo dirige tem no continente quatro clubes acabados, prontos, aptos a receberem clientes, que aguardam, fechados há dois anos, as competentes licenças. E concluiu: «Só tenho pena de não ter aceite um convite que me fizeram para ir trabalhar para a América, quando era novo. Isto aqui não presta. Não se consegue trabalhar, nem fazer nada. Basta ir a Espanha para se sentir logo a diferença».
Este diálogo fez-me lembrar um episódio da minha vida recente. Há quatro anos tive de “arranjar” um empréstimo volumoso para uma certa empresa. Estavam em causa muitos postos de trabalho e a vida profissional de algumas centenas de pessoas. Bati à porta de todos os bancos portugueses. Fui recebido em todos com rara cortesia, por vezes excessiva e intimidatória. Todos me pediram sempre o mesmo: dossiers, plantas, projectos, contas, demonstrações e projecções, em suma, toneladas e toneladas de papel. O melhor que consegui, passadas semanas de espera exasperante, foram simpáticas negativas. A maior parte dos bancos não se deu sequer ao trabalho de responder. Até que, através de um amigo, fui a um banco catalão. Levei comigo, para poupar tempo, os dossiers tradicionais. Fui recebido pelo director, um homem sóbrio e atento, que me começou a ouvir e a ver a documentação que lhe ia expondo. Ao fim de cinco minutos, quando começava a abrir os volumosos rolos das plantas de um certo edifício, o homem transformou-se e, quase exaltado, disse-me: «Rui!, eu só quero uma folha A4 com a implantação do edifício e a memória descritiva, um mapa de tesouraria actual e mais nada! O resto podes levar». No fim da reunião, que pouco mais demorou, disse-me que teria a resposta em dez dias. No exacto fim desse prazo tinha a resposta e, dois dias após, o dinheiro (várias centenas de milhares de contos) no banco.
Não me parece oportuno acrescentar muito mais. Nem tão-pouco argumentar se estes dois casos são paradigmáticos ou se foram acidentais. A verdade das coisas, a verdade pura e dura, é que todos sabemos que Portugal funciona mal: os serviços, as empresas, o Estado, o poder local, tudo, mas mesmo quase tudo, funciona contra o cidadão. Fá-lo perder tempo e muito dinheiro. Empata, quando deveria estimular. Desincentiva.
Em Espanha, não é assim. Todos também o sabemos. A Espanha teve uma guerra civil devastadora, uma ditadura que a isolou do mundo, tem o terrorismo, os separatismos e, contudo, funciona incomparavelmente melhor do que Portugal. Que não tem terrorismo nem separatismos, não conheceu a guerra civil no século XX, e, quanto a ditaduras férreas, vou ali e já venho… Resta acrescentar que estamos na mesma península e não nos separa o deserto do Saara. Praticamente, em muitos pontos do território mal sabemos quando estamos cá ou lá.
O que se passa, então, com Portugal? Que estranho trauma teremos, que facto da História nos terá transformado neste povo abúlico, submisso, bajulador e rastejante para com os de cima e ofensivo para os de baixo, gente sem rasgo nem horizonte e invejosa, mil vezes invejosa do sucesso do vizinho, do carro da prima ou da amante do tio?
Responda quem souber! Agora, que nos faria muito bem um choque com o impacto de 1580, não duvidem por um segundo!
sexta-feira, fevereiro 06, 2004
quinta-feira, fevereiro 05, 2004
O REGRESSO DO FACCIOSO
Já não era sem tempo! Mudo e quedo desde o dia 21 de Dezembro, retomou hoje funções um dos melhores blogues políticos do nosso mercado. Esperemos que seja um regresso definitivo.
Já não era sem tempo! Mudo e quedo desde o dia 21 de Dezembro, retomou hoje funções um dos melhores blogues políticos do nosso mercado. Esperemos que seja um regresso definitivo.
CARO PEDRO,
Embora discorde de si, tenho de reconhecer que me excedi há uns meses e que você é bem mais instruído do que na altura me pareceu. As minhas desculpas, portanto. Como prova de boa vontade, acrescentei o seu link na coluna do Mercado Livre. Mais e melhor, não consigo.
Embora discorde de si, tenho de reconhecer que me excedi há uns meses e que você é bem mais instruído do que na altura me pareceu. As minhas desculpas, portanto. Como prova de boa vontade, acrescentei o seu link na coluna do Mercado Livre. Mais e melhor, não consigo.
ONDE ANDA O «GRANDE REFORMADOR»?
Alguém sabe do paradeiro do Doutor Deus Pinheiro, Grande Reformador da Administração Pública Portuguesa, ou de resultados do trabalho da equipa de "excelência" que está a dirigir mais esta importante reforma do Governo?
Alguém sabe do paradeiro do Doutor Deus Pinheiro, Grande Reformador da Administração Pública Portuguesa, ou de resultados do trabalho da equipa de "excelência" que está a dirigir mais esta importante reforma do Governo?
PERGUNTA (IM)PERTINENTE
No Irreflexões (cada vez melhor e menos socialista): "Como estará a correr a preparação para a época de incêndios de 2004?"
No Irreflexões (cada vez melhor e menos socialista): "Como estará a correr a preparação para a época de incêndios de 2004?"
quarta-feira, fevereiro 04, 2004
O PA(C)TO DO REGIME
Facto 1: Num acesso de ternura institucional, que leva a que os mais intímos o tratem pelo "Jorge", o Chefe de Estado fez um apelo aos partidos com representação parlamentar, para que se entendessem, de uma vez por todas, sobre as "contas públicas".
Facto 2: Um ilustre grupo de desempregados políticos e de figuras pardacentas, sem que ninguém lhes tivesse encomendado o sermão, rumou patrioticamente a S. Bento, depositando nas mãos devotas do Presidente da Assembleia um importante documento que repetia o pedido de S. Exª.
Facto 3: Hoje, na mesma Assembleia, dirigindo-se aos deputados da oposição, a Srª Ministra das Finanças disse que estava disposta a integrar dois ou três pontos programáticos do PS, nos sete que constituiam o projecto do Governo para um ciclópico acordo de regime para as finanças do Estado.
Facto 4: O Sr. Deputado António Costa, da oposição, congratulou-se com as intenções governamentais, e disse que estava, com o seu partido, disposto a encarar seriamente o assunto, embora tivesse de ver primeiro a papelada, ou seja, os ditos sete pontos programáticos do Governo.
O PA(CTO): O contribuinte português, sobre quem, no fim de contas, se discorre em tudo isto, e que haja pacto ou não haja pacto, continuará a ter de pagar um Estado despesista e ineficiente.
Facto 1: Num acesso de ternura institucional, que leva a que os mais intímos o tratem pelo "Jorge", o Chefe de Estado fez um apelo aos partidos com representação parlamentar, para que se entendessem, de uma vez por todas, sobre as "contas públicas".
Facto 2: Um ilustre grupo de desempregados políticos e de figuras pardacentas, sem que ninguém lhes tivesse encomendado o sermão, rumou patrioticamente a S. Bento, depositando nas mãos devotas do Presidente da Assembleia um importante documento que repetia o pedido de S. Exª.
Facto 3: Hoje, na mesma Assembleia, dirigindo-se aos deputados da oposição, a Srª Ministra das Finanças disse que estava disposta a integrar dois ou três pontos programáticos do PS, nos sete que constituiam o projecto do Governo para um ciclópico acordo de regime para as finanças do Estado.
Facto 4: O Sr. Deputado António Costa, da oposição, congratulou-se com as intenções governamentais, e disse que estava, com o seu partido, disposto a encarar seriamente o assunto, embora tivesse de ver primeiro a papelada, ou seja, os ditos sete pontos programáticos do Governo.
O PA(CTO): O contribuinte português, sobre quem, no fim de contas, se discorre em tudo isto, e que haja pacto ou não haja pacto, continuará a ter de pagar um Estado despesista e ineficiente.
O LIXO DA HISTÓRIA
O major Mário Tomé publicou, hoje, no jornal Público um pequeno, mas interessante artigo, sobre o general Kaúlza de Arriaga. Não tanto pela evocação que faz do falecido militar, mas pela forma como termina o texto: «A derrota do exército colonial foi confirmada pelo 25 de Abril de 1974».
Se restassem ainda dúvidas, esta breve declaração de um dos operacionais da revolução, chegaria para demonstrar que o que esteve, de facto, presente no espírito do golpe não foi democratizar o país, nem abri-lo ao mundo ocidental, mas tão só terminar a guerra de África, libertando as Forças Armadas, sobretudo as patentes intermédias, desse fardo.
Por isso, António José Saraiva, insuspeito de simpatias fascistas ou para com o Estado Novo, chamou, no regresso do exílio, ao processo descolonizador português uma «debandada de pé descalço».
A democratização de Portugal não se iniciou no 25 de Abril, nem foi promovida pelos seus responsáveis. Começou em 25 de Novembro do ano seguinte, e teve de ser feita contra o 25 de Abril, o 28 de Setembro, o 11 de Março, o Conselho da Revolução, os SUV’s, Otelo, o COPCON, e toda uma tropa (lato sensu) terceiro-mundista que via nas barbas de Fidel um símbolo inspirador. Devemos a democracia e a liberdade a homens como Mário Soares, Sá Carneiro, Emídio Guerreiro, Magalhães Mota, que ofereceram resistência ao 25 de Abril. Já é tempo de remetermos a mitologia libertária do 25 de Abril para o seu lugar próprio - o lixo da História - e colocarmos as coisas no seu devido lugar.
O major Mário Tomé publicou, hoje, no jornal Público um pequeno, mas interessante artigo, sobre o general Kaúlza de Arriaga. Não tanto pela evocação que faz do falecido militar, mas pela forma como termina o texto: «A derrota do exército colonial foi confirmada pelo 25 de Abril de 1974».
Se restassem ainda dúvidas, esta breve declaração de um dos operacionais da revolução, chegaria para demonstrar que o que esteve, de facto, presente no espírito do golpe não foi democratizar o país, nem abri-lo ao mundo ocidental, mas tão só terminar a guerra de África, libertando as Forças Armadas, sobretudo as patentes intermédias, desse fardo.
Por isso, António José Saraiva, insuspeito de simpatias fascistas ou para com o Estado Novo, chamou, no regresso do exílio, ao processo descolonizador português uma «debandada de pé descalço».
A democratização de Portugal não se iniciou no 25 de Abril, nem foi promovida pelos seus responsáveis. Começou em 25 de Novembro do ano seguinte, e teve de ser feita contra o 25 de Abril, o 28 de Setembro, o 11 de Março, o Conselho da Revolução, os SUV’s, Otelo, o COPCON, e toda uma tropa (lato sensu) terceiro-mundista que via nas barbas de Fidel um símbolo inspirador. Devemos a democracia e a liberdade a homens como Mário Soares, Sá Carneiro, Emídio Guerreiro, Magalhães Mota, que ofereceram resistência ao 25 de Abril. Já é tempo de remetermos a mitologia libertária do 25 de Abril para o seu lugar próprio - o lixo da História - e colocarmos as coisas no seu devido lugar.
segunda-feira, fevereiro 02, 2004
Depois das declarações de hoje a TSF, será que restam ainda dúvidas que o homem só não volta se não puder? E que, a voltar, será o primeiro facto político verdadeiramente fracturante da coligação governamental?
LIBERDADE E PODER
Mais do que apreciar a natureza democrática do Estado, os direitos fundamentais dos cidadãos, as condições formais da liberdade política ou a participação, directa ou indirecta, dos cidadãos na vida da polis, a liberdade confronta-se nos dias de hoje com um problema paradoxal: quanto mais crescem as condições civilizacionais (tecnológicas) que levam ao individualismo, mais se refoça o poder interventivo do Estado.
Só na aparência existe aqui um paradoxo. É que, à medida que a sociedade tecnológica leva à atomização social, a tendência para o isolamento individual cresce, aumentando paralelamente o desinteresse pela vida comunitária e política, que provoca o desaparecimento de corpos sociais intermédios, situados entre o indivíduo e o Estado. Nesta situação de quase absoluto esvaziamento de vida social e política, entre o Estado e o indivíduo gerou-se um fosso gigantesco, que isola e protege o poder absoluto do novo leviathan. Crescendo sem que lhe fosse oferecida resistência, actualmente, nada é estranho ao poder político e ao Estado, que se arroga no direito de intervir em todas as dimensões da existência humana, com o argumento formal de melhor a proteger de perigos estranhos e equívocos.
A máquina do poder compreende hoje todas as manifestações de actuação social e política: partidos, associações cívicas, sidicatos, igrejas, universidades comunicação social, todos fazem parte de um sistema de poder, cujo objectivo é tomar lugar na estrutura dominante e, em última análise, à mesa do orçamento. Nas convulsões políticas e nas modificações governativas, sempre fundamentadas na melhoria das condições individuais, mais não há do que uma pura circulação das elites do poder, no mais puro sentido paretiano da expressão.
Nunca, como no mundo de hoje, o poder esteve tão isolado. Sob uma capa de mansidão e brandura, nunca o poder do Estado foi tão esmagador como agora. Vivemos numa ditadura de veludo.
Sair deste aparente paradoxo, mantendo e reforçando as condições para um individualismo crescente, sem cair em colectivismos sociais e políticos, e, simultaneamente, conseguir tirar ao Estado o poder que hoje detém e recuperar a liberdade perdida, é a verdadeira tarefa para uma nova intervenção liberal.
Mais do que apreciar a natureza democrática do Estado, os direitos fundamentais dos cidadãos, as condições formais da liberdade política ou a participação, directa ou indirecta, dos cidadãos na vida da polis, a liberdade confronta-se nos dias de hoje com um problema paradoxal: quanto mais crescem as condições civilizacionais (tecnológicas) que levam ao individualismo, mais se refoça o poder interventivo do Estado.
Só na aparência existe aqui um paradoxo. É que, à medida que a sociedade tecnológica leva à atomização social, a tendência para o isolamento individual cresce, aumentando paralelamente o desinteresse pela vida comunitária e política, que provoca o desaparecimento de corpos sociais intermédios, situados entre o indivíduo e o Estado. Nesta situação de quase absoluto esvaziamento de vida social e política, entre o Estado e o indivíduo gerou-se um fosso gigantesco, que isola e protege o poder absoluto do novo leviathan. Crescendo sem que lhe fosse oferecida resistência, actualmente, nada é estranho ao poder político e ao Estado, que se arroga no direito de intervir em todas as dimensões da existência humana, com o argumento formal de melhor a proteger de perigos estranhos e equívocos.
A máquina do poder compreende hoje todas as manifestações de actuação social e política: partidos, associações cívicas, sidicatos, igrejas, universidades comunicação social, todos fazem parte de um sistema de poder, cujo objectivo é tomar lugar na estrutura dominante e, em última análise, à mesa do orçamento. Nas convulsões políticas e nas modificações governativas, sempre fundamentadas na melhoria das condições individuais, mais não há do que uma pura circulação das elites do poder, no mais puro sentido paretiano da expressão.
Nunca, como no mundo de hoje, o poder esteve tão isolado. Sob uma capa de mansidão e brandura, nunca o poder do Estado foi tão esmagador como agora. Vivemos numa ditadura de veludo.
Sair deste aparente paradoxo, mantendo e reforçando as condições para um individualismo crescente, sem cair em colectivismos sociais e políticos, e, simultaneamente, conseguir tirar ao Estado o poder que hoje detém e recuperar a liberdade perdida, é a verdadeira tarefa para uma nova intervenção liberal.